segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Caderno 3 Diário do Nordeste de Fortaleza

PREMIAÇÃO (11/8/2009)
Arte e crise das utopias

O lançamento do II concurso Mário Pedrosa, no Centro Cultural Banco do Nordeste, com as presenças do professor Antônio Paulo Rezende e Natália Barros da Fundaj (Foto: Marcos Studart)
A Fundação Joaquim Nabuco lançou o II Concurso Mário Pedrosa de Ensaio sobre Arte e Cultura Contemporâneas. As inscrições seguem até o dia 18 de setembro

Estimular e difundir pesquisas centradas na produção artística e cultural contemporânea são os objetivos do Concurso Mário Pedrosa, realizado pela Coordenação Geral de Capacitação e Difusão Científico-Cultural da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).

O concurso aborda, em sua segunda edição, a temática "Arte e Mundo após a Crise das Utopias". Segundo Natália Barros, da Coordenação de Difusão Cultural da Fundaj, o tema pretende ser, ao mesmo tempo, objeto e circunstância para discussões específicas a serem desenvolvidas e apresentadas por estudiosos das artes em todo o país.

"Os conceitos de arte, mundo, crise e utopias, plenos de significados históricos e políticos nos últimos 20 anos, devem ser postos em movimento, por meio de pesquisas temáticas e teóricas. Queremos ampliar as discussões sobre a interação complexa do campo artístico (cinema, artes plásticas, música, literatura, entre outros) com as mudanças socioeconômicas e políticas", explica ela. Para o concurso serão selecionados três ensaios, resultantes de pesquisa inédita e original.

Prêmio

O prêmio individual para os trabalhos vencedores dividem-se da seguinte forma: 1° lugar (R$ 30 mil), 2° lugar (R$ 20 mil) e 3° lugar (R$ 10 mil). Conforme Barros, além da premiação em dinheiro está previsto também o lançamento de uma publicação com os ensaios ganhadores.

As inscrições para o concurso são gratuitas e deverão ser realizadas pelos concorrentes ou seus procuradores até 18 setembro. Elas podem ser enviadas via Sedex, dirigidas à Coordenadora da Fundaj, e postadas até o último dia estabelecido para as inscrições. Outras informações sobre o regulamento, objeto, tema e conteúdo do concurso estão no site: www.fundaj.gov.br

Reflexões

Durante a apresentação do concurso em Fortaleza, realizado no último dia 14 de julho, o professor-doutor Antonio Paulo Rezende, da Pós-graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), foi convidado a discorrer sobre o tema desta edição do Concurso Mário Pedrosa.

Em tom humorado e crítico, o professor começou seu discurso analisando a necessidade do homem de atribuir significados as "coisas" que o cercam, como uma maneira de tentar preencher seu vazio existencial.

A partir desse aspecto, o pesquisador levantou algumas questões pertinentes aos campos da arte e da história. "A medida em que o tempo passa, ele é relido. A memória é um diálogo com o esquecimento e, também, com a lembrança. O tempo é um diálogo com o passado e com o presente. Fazemos arte com aquilo que existiu, por isso a importância de retomar as utopias", explica o professor.

Para Rezende, a contemporaneidade traz em voga as relações descartáveis e o efêmero, onde consumimos coisas, pessoas e arte. "No geral, a gente nunca faz uma reflexão sobre o que lemos e o que vemos. A nossa crise é fruto da quebra do contato com o outro. É dos momentos de crise que conseguimos nos reconstruir, crescer".

Ações da Fundaj no Ceará

Vinculada ao Ministério da Educação, a Fundação Joaquim Nabuco tem como missão promover atividades científicas e culturais, buscando a compreensão e o desenvolvimento da sociedade brasileira, prioritariamente as das regiões Norte e Nordeste.

Apesar de ser uma instituição de cunho federal, a Fundaj concentra a maior parte de suas ações no Recife, cidade onde se localiza sua sede. Entretanto, com o intuito de ampliar suas atividades por outros lugares do Nordeste, ela vem estreitando laços com o Ceará, através de uma parceria com o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB).

Conforme Jaqueline Medeiros, coordenadora do núcleo de artes visuais do CCBNB, a primeira atividade prevista entre as instituições, é a realização, de 2 a 5 de setembro, do curso "Aproximações da Escrita da Arte", com a crítica de arte e coordenadora geral de capacitação e difusão cientifico-cultural da fundação, Cristiana Tejo.

O curso pretende aproximar as artes visuais com outros campos do conhecimento por meio da participação de alunos, professores e pesquisadores de História, Filosofia, Artes Cênicas, Sociologia, Literatura e Jornalismo. Ele visa ser um exercício de narrativas sobre os processos artísticos atuais.

"O Cariri é uma região onde a cultura popular é bastante forte, queremos também ampliar a discussão e estimular o desenvolvimento de estudos sobre a produção contemporânea. Existem muitos artistas visuais lá, precisando de um acompanhamento crítico que contribua com a sua própria pesquisa", explica Jaqueline Medeiros.

O curso terá uma parte presencial e a outra será a distância. O CCBNB irá disponibilizar os computadores da biblioteca virtual de seu centro cultural na região, para a efetivação desta etapa.

De acordo com Cristiana Tejo, a idéia da Fundaj é atuar não só na capital, mas também atender as cidades do interior. "A parceria é o início da formação de uma massa crítica de pensadores sobre arte contemporânea, seguiremos uma linha mais de formação curatorial e crítica. No curso iremos mostrar aos participantes como pensar e escrever um texto crítico sobre uma obra de arte ou uma exposição".

FIQUE POR DENTRO

Do ponto de vista do crítico de arte

De acordo com Otília Beatriz Arantes, professora de Estética, no Departamento de Filosofia da USP, Mário Pedrosa foi um incansável militante político socialista e um brilhante crítico de arte, principalmente das Artes Plásticas e da Arquitetura. Sua estréia como crítico aconteceu em 1933, em uma conferência sobre a gravurista alemã Kaethe Kollwitz. Tornou-se, em seguida, um dos nossos críticos mais importantes, inclusive no cenário internacional, coisa rara de se alcançar ainda hoje. Durante décadas publicou incansavelmente em jornais brasileiros e revistas estrangeiras. Foi o autor da primeira interpretação marxista da arte feita no Brasil. Ao longo de mais de cinco décadas acompanhou de perto a batalha dos jovens artistas e foi um dos grandes responsáveis pela atualização da arte moderna no Brasil, um verdadeiro "arauto" das nossas vanguardas estéticas. No início da década de 1940, processou-se uma mudança na predileção do crítico que passou a apoiar uma arte sem mensagem social ou política explícita. A explicação da mudança de interesse da arte proletária para o abstracionismo é um dos assuntos mais controvertidos na análise da obra de Pedrosa. Uma explicação estaria em sua ligação com o Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente, elaborado por vários artistas.

Mais informações:

II Concurso Mário Pedrosa de Ensaio sobre Arte e Cultura Contemporâneas, da Fundação Joaquim Nabuco. Inscrições seguem até 18 de setembro, das 9h às 12h e das 14h às 17h, no seguinte endereço: Rua Henrique Dias, 609, Derby, Recife-PE. CEP: 52.010-100. As inscrições poderão ser enviadas via Sedex, dirigidas à Coordenadora Geral de Capacitação e Difusão Científico e Cultural, da Diretoria de Cultura da Fundação.

Contatos: (81) 30736659 ou www.fundaj.gov.br

ANA CECÍLIA SOARES
REPÓRTER

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