sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Diário de uma doutoranda em fim de tese

Aproxima-se o momento de apresentar os resultados de minha pesquisa de doutorado. Apreensões, inseguranças e expectativas vêm à tona. Mas, uma frase do Antonio Faundez, educador chileno, acompanha-se estes dias: "porque o início do conhecimento é perguntar. E somente a partir de perguntas é que se deve sair em busca de respostas, e não o contrário." Minhas perguntas mudaram muito ao longo dos quatro anos do doutorado. Num misto de arrogância e ingenuidade, achei que já tinha respostas demais sobre história das mulheres e das relações de gênero, achava as perguntas e respostas repetitivas e me sentia cansada de ter sempre os mesmos interlocutores. Vejo hoje que estava enganada. Tantas perguntas não foram feitas! Tantas respostas ainda a serem descobertas! De toda forma, comecei a fazer perguntas sobre a arte produzida em Recife. Comecei a perguntar se existia uma historiografia da arte moderna em Pernambuco,quis entender que infindo debate era aquele entre Gilberto Freyre e Joaquim Inojosa. Por que as heranças daquele debate dos anos 1920 me pareciam ainda tão fortes na produção crítica sobre arte? Freyre era um velho conhecido, mas quem era Joaquim Inojosa? Além de difusor do modernismo paulista, de editor das revistas Mauricéia e A Pilhéria e de ter sido um dos principais rivais intelectuais de Gilberto Freyre, quem era Joaquim Inojosa? Por que os três volumes do Movimento Modernista em Pernambuco me soavam tão redundantes, cansativos e egocentricos? A Arte Moderna, a edição fac-similar, também me falava sempre de um mesmo tempo. Sentia que estava saturada da década de 1920. Mesmo assim, da apressada conclusão de inexistência da historiografia do modernismo em Pernambuco, lancei-me na tentativa de construir uma história da crítica de arte em Pernambuco, na década de 1920. Mais uma vez, quem havia produzido as principais fontes de pesquisa? Joaquim Inojosa. Com um olhar menos atravessado, consegui perceber que o MMP portava uma documentação valiosa para entender o que chamei de "crítica e construção do gosto estético no Recife dos anos 1920". Lentamente, percebia que História, historiografia e crítica do modernismo estavam presentes naqueles volumes e que uma análise dos textos de Joaquim Inojosa poderia responder algumas das minhas perguntas. No entanto, dava de ombros a sugestão do meu orientador: "por que você não faz sua tese apenas sobre Inojosa?" Não. Eu queria entender o Modernismo em Pernambuco nos textos de Joaquim Inojosa. Não. Eu queria entender os projetos estéticos e políticos do modernistas em Recife nos anos 1920. Não. Eu queria entender o papel de mediador e crítico cultural de Joaquim Inojosa. Todas estas (in) definições caminhavam lado a lado com a pesquisa documental e teórica. Quantas frustrações na busca das críticas de arte nos anos 1920! Quanto prazer e dedicação no curso Micro-História e usos da biografia. Mas, por que tanto interesse em biografias? Sua tese não é sobre crítica e historiografia da arte? Aos intrigados, uma vaga resposta: farei pequenas trajetórias destes individuos que escreveram sobre o passado da arte da nossa cidade. Não havia nada estranho. Não havia eu feito pequenas biografias na dissertação?! Não havia mesmo cogitado escrever a biografia de Gilberto Amado (que reencontrei nas redes de amizades JI)? No confronto com as fontes e a teoria, as perguntas constantemente eram refeitas, mas eu não me sentia menos insatisfeita com os rumos da tese. Parecia tudo vago. Eu não sentia a paixão dos meus tempos de estudiosa do gênero. Ademais, a maioria dos meus interlocutores estava no campo da arte e não da história. Sentia-me uma estranha no ninho. Em busca das pertinências,das relevâncias e,do que mais adoro em História, de um debate teórico-metodológico para me inserir, me acolher.

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