“e sempre que
a historia
esgotava os
poços da fantasia...”
Lewis Carroll
A peça “Alice Underground” com temporada exibida no Teatro
Eva Hertz na Livraria Cultura do Shopping Rio Mar, em Recife, merece algumas considerações.
A primeira delas está no mérito do esforço em trazer ao
público uma releitura dos clássicos Alice no País das Maravilhas e Alice
através do espelho, de Lewis Carroll, escritor inglês do século XIX, e propor
uma dose de ousadia, marcadamente em sua trilha sonora. No entanto, alguns
graves deslizes ofuscaram o potencial da proposta.
De modo geral, observamos uma notória dificuldade em romper
a cotidianidade e explorar a dimensão fantasiosa. Dimensão essa presente no
texto e citada nas falas iniciais que introduzem uma perspectiva nonsense e existencialista que,
lamentavelmente, não se configuraram na maior parte das cenas seguintes,
marcadas por certa banalização do hiper-real, que reduzido de modo racional e
preconceituoso, cai em um inevitável senso comum do proposto alter (outro). Não se olha o outro que
se sugere haver em sua multiplicidade de possibilidades, mas ratificam-se
estereótipos de comportamentos alternativos.
Vale destacar a pobreza do texto indicadora de uma
superficial leitura dos originais de Lewis Carroll. Para subverter ou para
interpretar livremente parece-nos ser fundamental dominar o texto original,
adentrar na experiência e “atmosfera” literária, potencializando-as no gestual
que, em muitos casos, tem mais força que o próprio texto. Parece-nos ainda, que
nos momentos de menor ênfase nas falas chegava-se ao tempo forte de expressão
artística, não cotidianizada.
Considerando-se que não se tratou de uma comédia, fora o
riso, o texto e as interpretações não provocaram espanto, inquietação.
Infelizmente, a dimensão de submundo (underground) não foi representada,
tampouco a loucura e o lúdico, trazendo muito mais clichês e mesmices.
Um detalhe a parte, e lamentável, foi a falta de gestão
administrativa do teatro Eva Hertz que vendeu ingressos até depois do inicio da
apresentação provocando um inconveniente abrir e fechar de portas que retirava
a atenção dos presentes. É lastimável que o público não seja pontual e se
adeque minimente às condições de um local coletivo de expressão artística que
exige concentração e rupturas como é próprio do espaço teatral.
Natalia Barros e
Francisco Cavalcanti – 06/04/13
Infelizmente, falta o mínimo de educação estética à maioria da população - inclusive à classe média, que tem mais acesso à cultura de elite -, levando a comportamentos de desrespeito à arte e ao artista, como esse da falta de pontualidade. Se houvesse educação estética na vida dessas pessoas, chegar na hora não seria apenas uma questão dita de "civilidade", mas de anseio por experimentar aquele espaço de ruptura com o cotidiano que é o teatro.
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